Boas religiões não precisam de defesas
Um pouco da minha visão de mundo sobre vários assuntos que acabam se interligando.
Me deparei com um tweet que mexeu com algo dentro de mim ao ponto de resultar nesse texto. A minha primeira reação, foi querer escrever uma longa explicação de resposta ao tweet, sobre como o autor estava errado na declaração. Logo veio a ideia de amarrar várias coisas que estavam na minha cabeça.
Primeiramente quero contar um pouco sobre o que foi alguns ambientes de trabalho que passei no começo da carreira de desenvolvimento. Passei por uma agencia e uma consultoria entre 2009 até 2012, em ambos os casos eu lembro de varar noites trabalhando, correndo atrás do tempo em projetos de waterfall que acabaram atrasados por N motivos e o no final das contas estava saindo algo que o cliente não queria.
Ainda em 2012 comecei a conhecer um pouco sobre Scrum e Kanban nessa consultoria e em vários projetos que não tinham a mesma cobrança que os outros projetos e os ciclos eram um pouco melhores. (era um pouco blz?)
Agora vamos adiantar para 2014, um ambiente de trabalho q rodávamos kanban e as coisas saiam dentro de uma semana de 40hrs e depois para 2016 onde entrei na Concrete que naquela época leva o conceito de agilidade e scrum by the book bem a sério. Hora extra era palavrão e os ciclos de aprendizagem eram extremamente importantes.
Junto do foco em engenharia, construir e aprender sobre o ambiente, mudar de acordo com as mudanças de cenário diziam muito sobre os times, lá eu aprendi muito sobre agilidade e até sobre o que queria dizer os pontos do manisfesto agil.
2017
Mas o mercado brasileiro de 2017 para cá mudou, a necessidade de acelerar transformações digitais em empresas que são ameaçadas por startups e empresas de tecnologia agéis, entramos e um ciclo de pressa nas entregas por grandes empresas tentando replicar a nivel de entrega das novas concorrentes que testam produtos em 3 semanas ou menos.
Essa pressa nas entregas e mudanças casou muito bem com o termo agilidade e se tornou a resposta para isso, aí adicionamos "coachs" que tenho certeza que se olharmos o currículos o ultimo trabalho formal foi nesse periodo, se tornando agile coachs.
Aqui quero pedir uma desculpas para os bons agile coachs que conheci, já trabalhei com profissionais fantásticos e que levavam o objetivo correto da metodologia.
O tweet que motiva esse texto
Ao ver a resposta desse tweet, ele me provocou várias reações. Como eu expliquei acima a visão que eu tenho de agilidade é bem diferente do que o usuário samunhoca tem.
E por diversas vezes já advoguei a favor da agilidade, já ajudei alguns lugares a colocar como forma de processo para entrega de software de forma satisfatória e até participei em treinamentos certificados pela scrum.org.
Fora o que já escrevi por aqui sobre vivencias pessoais que você pode acessar ao ler aqui nesse link aqui.
Mas tem ficado claro, tanto a forma errada e desvirtuada que tem sido aplicada e se distanciou muito da proposta. O que antes era uma metodologia para dimunir a pressão da entrega, se tornou a ferramenta que exerce ainda mais pressão do que outras metodologias.
Ao invés de criar planejamento para um ritmo saudável de trabalho, se tornou a ferramenta para pressionar por entregas ignorando os problemas que podem surgir em sprints.
Sprint se tornaram a ferramenta para medir trabalho e não um espaço de tempo para medir, aprender e avaliar o progresso.
O jeito que tem sido usado é basicamente uma forma de entregar cocô mais rápido esfolando funcionários no processo.
Se tornou comum falar de longas horas de trabalho, usando o Elon Musk como exemplo, colocarem Agile Coachs e Scrum Masters para defender a metodologia e motivar o time, ao invés de fazerem seu papel de proteger o time do conflito de interesses que entre PO e o time.
Basicamente virou uma religião talvez seita, com pastores, informações, A PROMESSA DE UMA VIDA MELHOR CHEIA DE RIQUIZAS (para a empresa) e que você pode alcançar tudo na vida dentro de algumas sprints. ALELUIA IGREJA!!!! AGORA FAZ O HAKA, afinal Scrum vem do Rugby e toda partida dos Neo Zelandezes tem um.
Scrum
Uma coisa que acho curiosa é que o Scrum é esse movimento da imagem em que o time mais precisa se apoiar para conquistar a bola e das metodologias ágeis é o que ficou mais popular.
E se tornou essa leitura superficial de coachs possivelmente após terem lido o Como fazer o dobro do trabalho na metade do tempo, que é uma leitura bem superficial sobre o assunto.
Mas métodos ageis também não exigem uma leitura muito profunda, scrum é um framework que empacota organização e ciclos de aprendizagem para evitar horas e horas de reuniões.
Então não precisa ser o Histórias Biblicas que você precisa ler para os seus filhos enquanto mantém a religião viva.
É só a merda de uma forma de trabalho, que bem aplicada pode ajudar a tornar as entregas com mais valor para quem importa.
E dado o cenário atual, espero cada vez mais me afastar dessa galera que trata como religião uma ferramenta para organizar trabalho, transformando algo que tinha com objetivo aliviar a carga de trabalho entregando a coisa correta pro usuário em uma forma de pressionar pessoas para entregar cocô mais rápido.
Mas dado todas essas informações e como me senti ao ver que tinha opinião diferente sobre agilidade foi um bom alerta para mim, notei que estava levando isso como uma religião e religiões são a ferramenta mais eficaz de opressão em nome de um bem maior. E eu não quero novamente na minha vida fazer parte de organizações opressivas por um bem maior.